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Maioria tem diagnóstico tardio de dislexia

O mundo das letras sempre foi um mistério para a contadora Priscila Felice, 27. "Eu nunca fui preguiçosa, estudava muito, mas não entendia direito o que lia." O aprendizado a duras penas foi uma constante na vida escolar de Priscila, até os 25, quando uma reportagem deu a pista do que ela poderia ter: dislexia. "A descoberta foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida."

De cada dez disléxicos diagnosticados no Brasil nos últimos dois anos, sete eram adultos, segundo a ABD (Associação Brasileira de Dislexia).

Assim como Priscila, são pessoas instruídas que enfrentam problemas de escrita e leitura até descobrir que possuem um transtorno neurológico.

Boa parte carrega a pecha de ser pouco inteligente, lerda e desatenta.
Definido como distúrbio ou transtorno de aprendizagem na leitura, escrita e soletração, a dislexia foi diagnosticada pela primeira vez em 1896, pelo neurologista inglês Pringle Morgan, que a chamou de cegueira verbal. Hoje sabe-se que ocorre em três graus. Leve (pequena dificuldade para ler e escrever), moderado (troca freqüente de palavras lidas e escritas e falhas de memória para fatos imediatos) e severo (quase incapacidade para ler e escrever).

Os disléxicos podem ser doutores, advogados, artistas, engenheiros. Entidades e associações costumam listar famosos supostamente vítimas do distúrbio, como a escritora de suspense Agatha Christie. "Mas eles não foram diagnosticados", alerta o médico neurocientista Cláudio Guimarães dos Santos, 44, da Unifesp (Universidade Federal de SP).

O diagnóstico envolve profissionais das áreas de fonoaudiologia, psicologia e psicopedagogia, e é comum que seja seguido de uma "descarga" emocional. "Esses pacientes sofrem a vida toda com rótulos e preconceitos. Alguns, quando crianças, foram submetidos a castigos e humilhações", diz Maria Angela Nico, 55, coordenadora técnica e científica da ABD.

O assistente social aposentado Antonio Barboza, 59, que descobriu ser portador há dois meses, diz que a dificuldade em interpretar textos rendeu-lhe o apelido de "caranguejo". "Um professor dizia que eu não ia para frente, só andava para os lados. Isso virou um estigma", conta.

Na escola, Antonio diz que se sentia um "peixe fora d'água". "Chegava a ler até quatro vezes o mesmo texto, na quarta linha, já havia esquecido o que tinha escrito nas três anteriores." À custa de muito estudo, só repetiu a primeira série e concluiu a faculdade.

Na maturidade, Antonio viu os mesmos problemas ocorrerem com um de seus três filhos, André, 24, até que no ano passado o rapaz descobriu a dislexia na internet, se identificou com os sintomas e fez os exames. O resultado do filho abriu os olhos do pai, diagnosticado como disléxico moderado. O caso de André, quinto ano de direito, é severo.

"Inverto frases e tenho falhas na memória imediata: esqueço, por exemplo, um número de telefone antes de anotá-lo." André adotou o transtorno como tema de sua monografia de conclusão de curso. "Quero abordar o papel do poder público no auxílio a crianças disléxicas em escolas públicas e privadas."

A escola é a principal vitrine da dislexia. Para tentar frear o número de descobertas tardias, a ABD elaborou uma cartilha para crianças disléxicas em processo de alfabetização. Inicialmente, o material deverá ser distribuído pelo MEC (Ministério da Educação) para a capacitação de professores em 116 municípios brasileiros a partir do segundo semestre.

"É recorrente pais e professores interpretarem o aluno disléxico como desinteressado e imaturo, o que contribui para baixar a auto-estima da criança", diz a psicóloga Clarice Ferreira Barbosa, 45, mãe de Celso, 7, que trocou três vezes de escola antes de ter o diagnóstico de dislexia severa. Há um ano e meio, Celso se trata com fonoaudióloga. Não erra mais a seqüência numérica, tem maior facilidade em associar nomes e objetos e está recuperando a auto-estima.

ROBERTO DE OLIVEIRA
da Revista da Folha de S.Paulo

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