Prof.Dr.Paulo Ricardo Souza Sampaio
Prof.Assistente de Oftalmologia da FMABC
Médico Oftalmologista
A Dislexia de Propriocepção, também chamada de Síndrome do Déficit Postural, é definida como uma “perturbação da aprendizagem da leitura que surge apesar de inteligência normal, ausência de perturbações sensoriais ou neurológicas, de instrução escolar adequada e de oportunidades socioculturais suficientes. È, portanto, uma perturbação das aptidões cognitivas fundamentais, freqüentemente de origem constitucional” (Federação Mundial de Neurologia).
Por propriocepção entendemos como a apreciação da posição, do equilíbrio e das suas modificações pelo sistema muscular (não confundir com somestesia, termo que designa a sensibilidade dos diversos estímulos sofridos pelo corpo com exceção dos provenientes dos órgãos sensoriais).
O sistema visual permite a colocação em pratica de mecanismos dos quais um dos papéis essenciais é tornar conscientes as imagens que nos rodeiam e nos interessam.
Entre milhares de informações que o conjunto dos nossos sentidos fornece ao cérebro, este último não deve reter senão as que nos são úteis. Para tal utiliza mecanismos de supressão e as imagens representam senão uma ínfima parcela do que nosso cérebro recebe e interpreta. O restante das imagens é tratado ao nível “infraliminar” e não vem perturbar a nossa consciência.
Esta noção é fundamental para compreender a relação que existe entre postura e visão e, por essa via, propriocepção e dislexia.
Utilizamos essas imagens “inconscientes ou pouco conscientes” para regular a nossa postura, nos situar no ambiente e situar os objetos no espaço.
Quando uma imagem entra no nosso campo de visão somos capazes de procurar ou evitar um objeto existente nessa imagem por modificação espontânea de nossa postura. Para tal não necessitamos identificar a imagem a um nível elevado de consciência. Isso é facilmente percebido quando um objeto em movimento entra em nosso campo de visão e interpretamos como ameaçador.
Estes mecanismos, que lidam com estruturas neurológicas bastante primitivas na filogênese, podem não estar perfeitamente regulados. Por conta disso surge um conjunto de perturbações, sem relação aparente entre si, fazendo com que o paciente migre entre diversas especialidades médicas, odontológicas e pedagógicas, até que seja avaliado por profissional alerta para essa anormalidade.
É importante compreender e lembrar que o olho não serve somente para ver mas que também faz parte do complexo sistema que permite manter uma pessoa em postura adequada e situar-se no espaço.
Para diagnosticar a Dislexia da Propriocepção o Oftalmologista especializado analisa o Processamento Visual ou seja, analisa a relação existente entre a Visão, os demais órgãos dos sentidos e a Postura. Quando constata a existência de perturbações nessa relação fecha o diagnóstico de Síndrome do Déficit Postural e inicia o tratamento global do paciente.
A LEITURA E A ESCRITA NA SINDORME DO DEFICIT POSTURAL
Durante o processo de leitura a imagem da palavra a ser lida entra no campo de visão antes de ser lida e interpretada. Esta imagem provoca uma adaptação da posição relativa dos olhos e da cabeça, adaptação essa controlada pelo nosso sistema postural. O indivíduo irá “procurar a palavra a ser lida” para coloca-la em um “campo visual de interesse”, antes de colocá-la sobre a porção principal da retina (fóvea) para decodifica-la.
Essa procura supõe a existência de um equilíbrio perfeito no posicionamento relativo dos olhos e da cabeça, sejam elementos a serem lidos móveis ou imóveis. Supõe também a localização perfeita da palavra a ser lida.
A propriocepção ocular é, portanto, dependente da propriocepção geral.
Estudos recentes mostram, também, que a dislexia não se resume a um problema de posicionamento do olhar. As alterações encontradas na propriocepção visual acontecem também nas vias auditivas, gustativas, táteis e olfativas.
TRATAMENTO DA DISLEXIA DA PROPRIOCEPÇÃO
O tratamento da dislexia da propriocepção envolve todo o sistema postural e dos órgãos dos sentidos.
Estudos realizados com disléxicos na França, Portugal, Finlândia, Suécia, Alemanha, Inglaterra e Brasil mostram que o tratamento multiprofissional é o mais indicado.
Na especialidade da Oftalmologia o uso de lentes prismáticas de baixo grau (1 até 4 prismas), com a base posicionada para o lado onde a avaliação postural global mostra maior contração muscular, promove o realinhamento deste complexo sistema.
Cada paciente apresenta um desalinho proprioceptivo diferente. Isso obriga uma avaliação médica demorada e cuidadosa. Sabemos que uma interpretação inadequada das informações que o corpo do paciente expõe, poderá implicar na prescrição errada das lentes prismáticas e, piorar mais ainda o quadro.
As lentes prismáticas nada tem a ver as lentes para tratamento do astigmatismo, da miopia ou da hipermetropia. Estes vícios de refração devem ser concomitantemente corrigidos.
Uma vez prescrita a lente prismática os óculos devem ser cuidadosamente confeccionados e mantidos. Armações frouxas, tortas ou mal posicionadas também pioram o quadro. São óculos, portanto, que exigem atenção constante dos pais, do próprio paciente e, do óptico para que estejam sempre em excelente estado de conservação.
São lentes que devem ser usadas constantemente, durante todo o dia. Não são óculos “para descanso ou para leitura”.
O paciente necessita reavaliações freqüentes para que se possa verificar se o sistema postural está sendo devidamente ajustado. Muitos pacientes, após algum tempo, necessitam reduzir o prisma prescrito ou até mesmo elimina-lo. Estas reavaliações também devem ser realizadas com atenção e pelo tempo de exame que for necessário para que a prescrição não seja alterada de forma intempestiva ou demasiadamente lenta.
Alguns pais não conseguem valorizar o tempo de exame e o esforço do profissional no estudo do caso de seus filhos e chegam a considerar “injustas” a cobrança dos honorários dispendidos nas avaliações e reavaliações necessárias. Cabe lembra-los sempre que o custo social e profissional de um mau leitor e as conseqüências futuras pelo mal posicionamento postural terão custo muito mais elevado no futuro. A boa relação médico-familia-paciente-equipe multiprofissional é fundamental para o sucesso de qualquer tratamento. Se essa relação for afetada é preferível que o paciente nem use as lentes prismáticas necessárias. É importante também que o paciente seja acompanhado por Oftalmologista que conheça a Síndrome do Déficit Postural a fundo. Prescrições mal orientadas trazem conseqüências desastrosas.
A EQUIPE MULTIPROFISSIONAL
O trabalho do Oftalmologista não é único. O professor de Educação Física, o Visopedagogo, o Fonoaudiólogo, o Psicopedagogo (e também o Psicólogo, quando necessário) participam ativamente do tratamento. A prescrição dos prismas é importante mas, não deve nunca ser usada de maneira isolada.
Prof.Assistente de Oftalmologia da FMABC
Médico Oftalmologista
A Dislexia de Propriocepção, também chamada de Síndrome do Déficit Postural, é definida como uma “perturbação da aprendizagem da leitura que surge apesar de inteligência normal, ausência de perturbações sensoriais ou neurológicas, de instrução escolar adequada e de oportunidades socioculturais suficientes. È, portanto, uma perturbação das aptidões cognitivas fundamentais, freqüentemente de origem constitucional” (Federação Mundial de Neurologia).
Por propriocepção entendemos como a apreciação da posição, do equilíbrio e das suas modificações pelo sistema muscular (não confundir com somestesia, termo que designa a sensibilidade dos diversos estímulos sofridos pelo corpo com exceção dos provenientes dos órgãos sensoriais).
O sistema visual permite a colocação em pratica de mecanismos dos quais um dos papéis essenciais é tornar conscientes as imagens que nos rodeiam e nos interessam.
Entre milhares de informações que o conjunto dos nossos sentidos fornece ao cérebro, este último não deve reter senão as que nos são úteis. Para tal utiliza mecanismos de supressão e as imagens representam senão uma ínfima parcela do que nosso cérebro recebe e interpreta. O restante das imagens é tratado ao nível “infraliminar” e não vem perturbar a nossa consciência.
Esta noção é fundamental para compreender a relação que existe entre postura e visão e, por essa via, propriocepção e dislexia.
Utilizamos essas imagens “inconscientes ou pouco conscientes” para regular a nossa postura, nos situar no ambiente e situar os objetos no espaço.
Quando uma imagem entra no nosso campo de visão somos capazes de procurar ou evitar um objeto existente nessa imagem por modificação espontânea de nossa postura. Para tal não necessitamos identificar a imagem a um nível elevado de consciência. Isso é facilmente percebido quando um objeto em movimento entra em nosso campo de visão e interpretamos como ameaçador.
Estes mecanismos, que lidam com estruturas neurológicas bastante primitivas na filogênese, podem não estar perfeitamente regulados. Por conta disso surge um conjunto de perturbações, sem relação aparente entre si, fazendo com que o paciente migre entre diversas especialidades médicas, odontológicas e pedagógicas, até que seja avaliado por profissional alerta para essa anormalidade.
É importante compreender e lembrar que o olho não serve somente para ver mas que também faz parte do complexo sistema que permite manter uma pessoa em postura adequada e situar-se no espaço.
Para diagnosticar a Dislexia da Propriocepção o Oftalmologista especializado analisa o Processamento Visual ou seja, analisa a relação existente entre a Visão, os demais órgãos dos sentidos e a Postura. Quando constata a existência de perturbações nessa relação fecha o diagnóstico de Síndrome do Déficit Postural e inicia o tratamento global do paciente.
A LEITURA E A ESCRITA NA SINDORME DO DEFICIT POSTURAL
Durante o processo de leitura a imagem da palavra a ser lida entra no campo de visão antes de ser lida e interpretada. Esta imagem provoca uma adaptação da posição relativa dos olhos e da cabeça, adaptação essa controlada pelo nosso sistema postural. O indivíduo irá “procurar a palavra a ser lida” para coloca-la em um “campo visual de interesse”, antes de colocá-la sobre a porção principal da retina (fóvea) para decodifica-la.
Essa procura supõe a existência de um equilíbrio perfeito no posicionamento relativo dos olhos e da cabeça, sejam elementos a serem lidos móveis ou imóveis. Supõe também a localização perfeita da palavra a ser lida.
A propriocepção ocular é, portanto, dependente da propriocepção geral.
Estudos recentes mostram, também, que a dislexia não se resume a um problema de posicionamento do olhar. As alterações encontradas na propriocepção visual acontecem também nas vias auditivas, gustativas, táteis e olfativas.
TRATAMENTO DA DISLEXIA DA PROPRIOCEPÇÃO
O tratamento da dislexia da propriocepção envolve todo o sistema postural e dos órgãos dos sentidos.
Estudos realizados com disléxicos na França, Portugal, Finlândia, Suécia, Alemanha, Inglaterra e Brasil mostram que o tratamento multiprofissional é o mais indicado.
Na especialidade da Oftalmologia o uso de lentes prismáticas de baixo grau (1 até 4 prismas), com a base posicionada para o lado onde a avaliação postural global mostra maior contração muscular, promove o realinhamento deste complexo sistema.
Cada paciente apresenta um desalinho proprioceptivo diferente. Isso obriga uma avaliação médica demorada e cuidadosa. Sabemos que uma interpretação inadequada das informações que o corpo do paciente expõe, poderá implicar na prescrição errada das lentes prismáticas e, piorar mais ainda o quadro.
As lentes prismáticas nada tem a ver as lentes para tratamento do astigmatismo, da miopia ou da hipermetropia. Estes vícios de refração devem ser concomitantemente corrigidos.
Uma vez prescrita a lente prismática os óculos devem ser cuidadosamente confeccionados e mantidos. Armações frouxas, tortas ou mal posicionadas também pioram o quadro. São óculos, portanto, que exigem atenção constante dos pais, do próprio paciente e, do óptico para que estejam sempre em excelente estado de conservação.
São lentes que devem ser usadas constantemente, durante todo o dia. Não são óculos “para descanso ou para leitura”.
O paciente necessita reavaliações freqüentes para que se possa verificar se o sistema postural está sendo devidamente ajustado. Muitos pacientes, após algum tempo, necessitam reduzir o prisma prescrito ou até mesmo elimina-lo. Estas reavaliações também devem ser realizadas com atenção e pelo tempo de exame que for necessário para que a prescrição não seja alterada de forma intempestiva ou demasiadamente lenta.
Alguns pais não conseguem valorizar o tempo de exame e o esforço do profissional no estudo do caso de seus filhos e chegam a considerar “injustas” a cobrança dos honorários dispendidos nas avaliações e reavaliações necessárias. Cabe lembra-los sempre que o custo social e profissional de um mau leitor e as conseqüências futuras pelo mal posicionamento postural terão custo muito mais elevado no futuro. A boa relação médico-familia-paciente-equipe multiprofissional é fundamental para o sucesso de qualquer tratamento. Se essa relação for afetada é preferível que o paciente nem use as lentes prismáticas necessárias. É importante também que o paciente seja acompanhado por Oftalmologista que conheça a Síndrome do Déficit Postural a fundo. Prescrições mal orientadas trazem conseqüências desastrosas.
A EQUIPE MULTIPROFISSIONAL
O trabalho do Oftalmologista não é único. O professor de Educação Física, o Visopedagogo, o Fonoaudiólogo, o Psicopedagogo (e também o Psicólogo, quando necessário) participam ativamente do tratamento. A prescrição dos prismas é importante mas, não deve nunca ser usada de maneira isolada.
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